Daniel Pessoa
28/12/22 |
Na Copa Do Mundo da África do Sul, em 2010, um lance do jogo entre Inglaterra x Alemanha pelas oitavas de final se tornou um dos mais polêmicos da história e mudou para sempre o futebol e a maneira como a arbitragem atua durante uma partida.
Aos 39 minutos do primeiro tempo, buscando o empate quando perdiam por 2 x 1, o meio campista inglês Frank Lampard deu um chute de fora da área, a bola bateu no travessão de Manuel Neuer e entrou...não para o árbitro, que não deu o gol aos ingleses. Lampard, transtornado, pressiona o árbitro dizendo que a bola entrou, mesmo assim o gol não é validado e no fim, os ingleses são eliminados com um placar de 4 x 1. Imagens de TV do mundo inteiro repercutiam e discutiam sobre o lance, e uma análise constatou que a bola entrou no gol alemão com 33 centímetros de sobra.
Após a falha acachapante, a Fifa prometeu mais investimentos em tecnologias no futebol, contando já para a Copa de 2014, no Brasil, o que de fato ocorreu. A primeira inovação implementada foi justamente para mitigar o erro ocorrido 4 anos antes, batizada de Goal Line Technology (GLT), ou “Tecnologia de Linha do Gol”, que utiliza uma combinação de 14 câmeras espalhadas pelo estádio – 7 em cada gol – que calcula a posição da bola nos eixos horizontal e vertical, sinalizando ao árbitro se a bola de fato entrou (GHEDIN, 2014).
A tecnologia se provou ser um sucesso quando no jogo França x Honduras o primeiro gol utilizando este conceito foi validado. Em um chute de Karim Benzema, o goleiro hondurenho Noel Valadares se atrapalhou com a bola, e a removeu com a mão quando ela já estava completamente dentro do gol e a GLT, bem aplicada, não deixou sombra de dúvidas.
Mais tecnologias foram implementadas pela Fifa, como o Video Assistant Referees (VAR) que foi aplicado na Copa da Rússia, em 2018, mas nesta última copa tivemos uma verdadeira revolução no que tange ao football tech, e que com certeza deixará um legado para não só as próximas edições de copas do mundo, mas para também todas as competições mundo a fora.
Destas, podemos citar 3 principais revoluções:
1. Impedimento Semiautomático:
O impedimento semiautomático é uma ferramenta de suporte ao VAR que ajuda os árbitros a tomarem mais rapidamente decisões sobre impedimentos. Esta tecnologia utiliza 12 câmeras espalhadas pelo estádio que, partindo de conceitos de visão computacional, rastreia todo o movimento dos jogadores pelo campo (COSTA, 2022).
Este mapeamento permite criar imagens 3D, por meio de uma inteligência artificial, que mostra a exata posição dos jogadores de maneira muito precisa, evidenciando a posição de impedimento de maneira mais clara.
2. Bola com conexão em tempo direto com o VAR
No início do ano, a Adidas mostrou ao mundo a bola que seria utilizada na copa, batizada de “Ahl Rihla” que significa “A Jornada” em árabe.
A bola chamou a atenção do mundo pois prometia ser a bola mais veloz já desenvolvida pela marca alemã, com materiais para diminuir o arrasto aerodinâmico, mas além disso uma nova tecnologia complementar ao uso do VAR seria colocada em prática, o Adidas Suspension System. Este sistema funciona por meio de um sensor inercial inserido no interior da bola, que emite dados sobre sua velocidade e localização 500 vezes por segundo (500 Hz).
Podemos evidenciar o uso efetivo deste sistema no jogo entre Espanha x Japão, válido pela primeira fase, pois o segundo gol japonês precisou passar por uma complicada e minuciosa análise antes de ser validado, sendo que existiam dúvidas se a bola havia saído ou não completamente antes do cruzamento que originou o gol.
O sistema, em conjunto com o VAR, entrou em ação e a análise dos dados emitidos pelo sensor inercial constatou que a bola ficou dentro do campo por aproximadamente 1mm, validando o gol e mostrando o acerto da Fifa em investir na tecnologia.
3. Aplicativo Fifa Player
O avanço do Big Data nos últimos anos permitiu que grandes volumes de dados pudessem ser coletados e transformados em informação de forma real time, para facilitar e agilizar a tomada de decisão dentro de empresas.
Este conceito facilmente migrou para dentro do futebol, onde as comissões técnicas das equipes têm usado as informações coletadas em treinos e jogos para entender as deficiências de seus jogadores e as fortalezas de seus adversários e, assim, poderem agir mais rapidamente ao longo de uma partida, modelando e aprimorando o seu estilo de jogo.
Pensado nisto, a Fifa desenvolveu o aplicativo “Fifa Player” para disponibilizar as seleções dados sobre suas partidas e seus jogadores ao longo da competição. Estes dados passam por uma curadoria de analistas de desempenho da própria instituição, e possuí indicadores de desempenho físico (velocidade máxima de um jogador,etc) e de inteligência de jogo (zonas de passe, etc) para auxiliar cada time a maximizar seu desempenho.
Nesta Copa, vimos a tecnologia em ação, em benefício do jogo. Ela pode ter pecado em vários quesitos (nos quais não vamos aprofundar aqui) e também ter sido carente em emoções em certos momentos, mas saímos dela tendo a certeza de que o futebol é um esporte mais evoluído, inteligente e, com toda certeza, mais justo e honesto dentro das quatro linhas.
Bibliografia
A video of the Adidas 2022 World Cup ball has gone viral - does the Adidas 2022 World Cup ball showcase a Trefoil logo? FOOTY HEADLINES, 2022. Disponivel em:
COSTA, D. Conheças as inovações tecnológicas na Copa do Mundo 2022. SOMWMETECH, 2022. Disponivel em:
FIFA Player App. Fifa, 2022. Disponivel em:
GHEDIN, R. Tecnologia da Linha do Gol, o golaço da tecnologia na Copa do Mundo 2014. Manual do Usuário, 2014. Disponivel em:
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