Futebol Interativo

13/12/24 | Leitura 4min

Identificando como um time se defende

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Identificando como um time se defende


Por Marcus Arboés

Se alguém te perguntar, você sabe dizer como um time se defende? Não falo só de identificar o sistema tático em que a equipe está desenhada, mas de entender e explicar padrões defensivos de um time. Nesse artigo, vou te explicar os diferentes tipos de marcação e vários conceitos defensivos que vão te ajudar a classificar as defesas!


Marcação por zona (passiva/não pressionante)

Os jogadores sem a bola têm o espaço como referência, defendem mais as suas zonas de atuação, sem priorizar marcar ou dar o bote no adversário com a bola. A ideia é atrai-lo para um espaço onde possa ser desarmado em desvantagem ou para que erre um passe. Os movimentos das linhas de defesa tendem a ser coordenados, balançando juntos para o lado sendo atacado.

Ordem de prioridade da referência: zona > companheiro de time > bola > adversário


Marcação por zona pressionante

A referência do time segue sendo zonal, ou seja, estruturalmente defende os espaços, mas o marcador mais próximo do adversário com bola pressiona, saltando a marcação, enquanto o balanço defensivo dos demais jogadores ou um companheiro de time, mesmo, cobrem o espaço deixado, assim, o bote é dado com segurança. É uma marcação por zona, com o portador da bola sempre sendo pressionado.


Marcação individual

Essa forma de se organizar para defender está um pouco mais datada, porque com a capacidade tática de hoje, é mais fácil de manipulá-la, mas, basicamente, cada jogador tem uma referência individual, que persegue ao longo do campo, independente do sistema tático defensivo. Perseguições individuais são mais utilizadas quando o time marca em bloco alto, pressionando. O famoso "cada um com o seu".

Referência no adversário e na bola, antes do espaço.


Marcação por encaixes / mista

É a marcação individual moderna. Imagine uma mistura da marcação por zona com a individual, onde a referência passa a equilibrar o espaço e o jogador adversário. Nessa forma de se organizar para defender, os atletas devem perseguir individualmente o adversário que estiver na zona do campo de acordo com sua posição no sistema tático defensivo. Se o jogador sair daquele espaço, não precisa perseguir, pois é a zona de outro, a não ser que estejam 2 contra 1.

As perseguições individuais podem ser mais curtas ou mais longas, basta observar o quão longe vai o jogador marcando o outro individualmente. E não necessariamente essa marcação individual precisa ser uma marcação pressionante, de perto o tempo inteiro com muita intensidade. Se for uma perseguição mais curta, é até fácil de confundir com uma marcação por zona, mas é só observar a diferença das prioridades!


É muito comum, também, que o time tenha instruções específicas e mescle diferentes tipos de comportamento (individual x zonal). Veja nesse exemplo, em 4-1-4-1, o time faz uma marcação por zona passiva, mas o centroavante dá um primeiro combate em quem está com a bola e o primeiro volante é responsável por perseguir individualmente o jogador (muitas vezes o 10) que se movimenta pelo entrelinhas.


Neste outro exemplo, marcando mais alto, o comportamento da maioria do time é de fazer uma pressão alta individualizando as perseguições, mas a última linha, de defensores, se comporta de forma zonal, geralmente para proteger a profundidade do campo em casos de lançamento. Há dois tipos de comportamento para os zagueiros, que são os casos de bola coberta e descoberta.

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Bola descoberta

Quando o adversário com bola tiver o ângulo de visão do passe livre, sem um marcador, ou seja, condicionado ao passe/lançamento, os marcadores do meu time devem brecar o movimento, perfilando o corpo de forma que facilite a corrida para trás, controlando a profundidade

Identificando como um time se defende

Bola coberta

Quando esse adversário tiver o ângulo de lançamento obstruído por um marcador, a linha de defesa deve avançar, sufocando as opções do portador da bola.

Essas decisões, em cada equipe, podem variar dependendo de onde elas estão defendendo, por isso, precisamos entender as prioridades do time que se defende em diferentes alturas do campo.

Identificando como um time se defende

Linhas defensivas altas

Você viu que falamos de time marcando alto ali em cima, ou seja, está marcando mais distante do seu gol. Nessa fase, as linhas de defesa tendem a estar mais descompactadas / espaçadas. A tendência é que se marque alto por encaixes, inclusive!

Marcando alto, a prioridade da defesa é impedir a progressão e roubar a bola no ataque com o adversário desorganizado ou forçá-lo a um lançamento errado.

Vale reforçar que é interessante ter um goleiro com boa defesa do espaço e saída, nesse caso.

Identificando como um time se defende

Defesa em altura média

Numa altura média, a prioridade da marcação segue sendo impedir a progressão do time adversário, com a marcação tendendo a ficar mais compacta.

Essa altura é uma faca de dois gumes: tanto te oferece a possibilidade de um contra-ataque com espaço mais letal que defendendo baixo, quanto requer uma atenção redobrada com o controle da profundidade (lançamentos diretos), porque o adversário tem espaço para atacar mais próximo da área do seu goleiro.

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Linhas defensivas baixas

Defendendo mais próximo do próprio gol, a prioridade não é mais a progressão do adversário, que já ganhou campo, e sim impedir a finalização. Por isso, é muito importante que seu time defenda o funil: essa área em formato de trapézio entre a entrada da área e o seu gol. É desse espaço que saem mais jogadas e mais chutes perigosos.

É comum que as linhas estejam ainda mais compactas, justamente para proteger o espaço entre elas e tirar a possibilidade de criatividade do adversário. Mas você entende o que é a compactação?


Compactação defensiva vertical

A compactação exemplificada acima é numa orientação vertical, ou seja, as linhas de marcação do time que está sem a posse da bola estão mais próximas. O objetivo disso será sempre tirar o espaço efetivo de jogo do adversário com bola e, assim como qualquer outra ferramenta de jogo, tem ônus e bônus, que variam a depender de onde e como o time está compactado.

Por exemplo, quando o bloco de marcação está alto, a compactação visa dificultar a saída de bola do adversário, mas ela tem um espaço limite por causa da linha de impedimento a partir do meio de campo e é comum que uma marcação mais individual descompacte o bloco defensivo com facilidade, porque a referência passa a ser mais no jogador adversário.

Em bloco médio, o risco é o mesmo: ataque nas costas da marcação. Mas o Barcelona de Hansi Flick tem dado um bom exemplo de como jogar de forma compactada em média altura, tirando o espaço efetivo de jogo. Nessa altura, é comum que o adversário também tenha mais campo para fazer a saída, mas o espaço entre as linhas fica mais apertado.

Em bloco baixo, o objetivo é, principalmente, proteger os espaços entre as linhas dos jogadores mais criativos do adversário, que tendem a criar e concluir jogadas por dentro, mas um bloco muito compacto de todas as linhas pode dificultar um pouco as transições ofensivas, também.


Compactação defensiva horizontal

Isso é visto quando a defesa do time sem posse, sob uma perspectiva horizontal, não está espaçada. No futebol atual, é muito comum que as equipes tentem ter sempre dois jogadores em amplitude, um em cada lado do campo, para poder espaçar a defesa do adversário, que tende a estar mais concentrada no meio do que espaçada.

Mas não necessariamente você vai ver sempre aquele bloco de jogadores mais dentro da área ou vai ver um comportamento do bloco inteiro de marcação viajando junto, ou seja, fazendo o balanço de marcação para onde o time está sendo atacado.

Quando isso acontece e o time defendendo concentra seu bloco de um lado do campo, ganha uma vantagem numérica e tira o espaço de criação do adversário, mas expõe o outro lado do campo. Do mesmo jeito que o bloco defensivo concentrado e compactado por dentro, oferece as laterais para o adversário atacar, mas protege a zona mais perigosa do jogo.

Identificando como um time se defende

Um time pode marcar de diferentes formas em cada altura do campo. Inclusive, é comum vermos equipes que, quanto mais próximas do próprio gol, mais marcam por zona e, quanto mais longa, mais marcam de forma individual. Em todas as alturas e em todos os tipos de marcação, o padrão de ação defensiva pode variar entre:

  • dar o bote no adversário, forçando combate
  • tirar o ângulo de passe e forçá-lo ao erro
  • dar o bote no timing do passe do adversário

E cada tipo de comportamento pode ser diferente e estimulado estrategicamente, como em exemplos bem conhecidos, como: o time marcar por zona e saltar a pressão individual quando a bola chegar em um local ou jogador específico; o time marcar espaçado na defesa em bloco médio e baixo, mas compactar o bloco sufocando os adversários de forma mais agressiva com superioridade numérica quando a bola chegar nos lados do campo;

Todos esses conceitos de jogo podem ser combinados e estimulados para lidar com diferentes contextos internos - características do elenco - e externos - mapeando fragilidades do adversário.


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